Enquanto todo o mundo enaltece o artesanal e o feito a mão, Miuccia Prada vira o jogo e eleva os valores industriais no desfile masculino + feminino apresentado domingo nos headquartes do grupo aqui em Milão. Não apenas na cenografia do verão 2016, com gigantes lustres transparentes de acrílico, com detalhes em aço e bancos cinza cimento, mas também no processo de produção das peças. Nenhuma e nenhum detalhe é feito a mão. Sai o botão entra o zíper.
Prada (Foto: Arquivo pessoal)
Na coleção, looks street, com sobreposições de pecinhas coloridas típicas de uma loja de fast-fashion, com estampas pop de bichos, de olhos e de setas. É a Prada levantando a bandeira do "industrial de luxo". Tecidos sintéticos se misturam com lãs e couro de cobra tanto nos looks femininos como nos masculinos.
Integrantes da platéia que esperavam mais conceito nas silhuetas ficaram decepcionados com a despretensão da imagem final. O conceito, no caso, está por trás da imagem. É fato que Miuccia, ao usar malhas, jersey e elanca multicoloridos busca consumidores jovens e também o aumento no lucro: a fabricação em escala, com feito tudo a maquina e o mix de materiais caros com baratos, diminui o custo final das roupas e aumenta o mark-up. Afinal, não é pecado ser industrial e capitalista.
Prada (Foto: Arquivo pessoal)
Alguns pontos ligam as coleções da Prada e da Gucci, esta apresentada em novo local, uma antiga estação de trem. Alessandro Michele não interferiu no visual de cimento e vigas de ferro dos imensos armazéns que antes guardavam a carga transportada nos vagões, e que hoje servem como espaço de eventos. Ele apenas inseriu neons multicoloridos e charmosas cadeiras de madeira vermelha com bucólicos assentos de estampas de plantas.
Assim como a Prada, Michele também fez tênis que parecem chuteiras delicadas e investiu em bichos para o verão da Gucci - gatos, borboletas e andorinhas são seus eleitos. Em seu segundo desfile masculino para marca, Michele aprofundou sua ideia de que legal é ser jovem, culto e de que homens e mulheres podem se vestir de maneira semelhante. Para os dois, terninhos de seda adamascada, luxuosos trench coasts e sacolas grandes (porem leves) que dão pistas de que a era da minibolsa tem prazo de validade?
Ao contrário do pop-industrial da Prada, a Gucci aproxima o campo da cidade e afirma que ler poesia é tão legal quanto fazer compras. Foram 45 looks masculinos e 10 femininos em cores alegres e com destaque para as deliciosas camisas de seda, que compõem o vocabulário do filosófico estilista.
Fui conhecer a coleção no showroom e, de perto, pela riqueza de detalhes, inclusive no avesso, ela cresce de importância. Michele parece ter muito amor ao seu ofício. Que bom!
MSGM (Foto: Arquivo pessoal)
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